A mentoria profissional é uma estratégia já bastante conhecida para facilitar o aprendizado e a troca de ideias no ambiente de trabalho. Nos moldes tradicionais, as empresas colocam como mentor um profissional sênior, enquanto os iniciantes na carreira são mentorados.
Mas o que acontece ao inverter essa ideia? O conceito da mentoria reversa é justamente esse: os profissionais juniores como mentores de colaboradores com mais tempo de carreira. Nesse artigo, vamos entender melhor as possibilidades desse modelo.
Como funciona a mentoria reversa?
Na mentoria tradicional, os tópicos tendem a estar ligados ao crescimento na empresa. Ou seja, profissionais mais experientes no mercado abrem espaço em sua rotina para auxiliar iniciantes a lidar com seus desafios profissionais, usando seu repertório como referência.
Porém, no mercado de trabalho contemporâneo, existem novos desafios, como implementação de novas tecnologias, mudanças nas demandas do setor e formas diferentes de realizar os processos diários nas empresas.
Justamente por isso, profissionais seniores podem ter dificuldade na adaptação a esses novos moldes. Mesmo tendo mais experiência no mercado, podem enfrentar barreiras ao aplicar seus conhecimentos.
Sendo assim, ao ter a oportunidade de dialogar com um segmento mais próximo dessa realidade, os colaboradores adaptam seu repertório aos moldes atuais de trabalho, contribuindo para maior sucesso e satisfação.
Nem sempre essa troca é possível na rotina de trabalho. É por isso que as empresas que entendem a importância da diversidade geracional criam programas de mentoria reversa, dedicados a fomentar essa troca.
Quais são os benefícios para a empresa?
O diálogo é sempre benéfico para a melhoria das relações de trabalho e a cultura da empresa em geral. Porém, por meio de programas estruturados de mentoria reversa, as lideranças podem ver resultados claros dessa troca. Entre as vantagens, estão:
Engajamento da equipe
As empresas só têm um funcionamento eficiente quando há engajamento de equipes. Mas, com as rápidas mudanças no mercado, os profissionais seniores podem estar desmotivados e pouco abertos a adaptar seu conhecimento.
Por meio da mentoria reversa, os colaboradores encontram novas formas de aplicar a experiência profissional, o que traz mais satisfação com as atividades realizadas e mais engajamento com os projetos da organização.
Desenvolvimento de habilidades técnicas
Um dos pontos mais importantes do desenvolvimento profissional a longo prazo é a proficiência nas ferramentas de trabalho. Porém, como cada vez mais surgem diferentes possibilidades, essa busca por conhecimento precisa de estrutura.
Nesse sentido, a mentoria reversa pode ser uma ótima forma de aprender novas habilidades técnicas. Um exemplo importante são as competências digitais: softwares, redes sociais e plataformas online de trabalho não são nativas para alguns colaboradores de maior experiência na empresa.
Justamente por isso, podem se sentir perdidos em relação ao que aprender, como começar e o que priorizar. Já profissionais juniores, geralmente de gerações nativas digitais, têm contato mais próximo com essas ferramentas e podem auxiliar o aprendizado.
É claro que os colaboradores podem se beneficiar de tutoriais, workshops e cursos para entender melhor como as ferramentas funcionam, mas a mentoria reversa ajuda a entender seu impacto no ambiente de trabalho e dialogar sobre as melhores formas de aplicar os novos conhecimentos.
Promoção da inovação
Outro benefício da mentoria reversa é que ela cria um espaço estruturado de diálogo na rotina dos profissionais. Muitas vezes deixada de lado em fluxos de trabalho corridos, a troca de ideias é fundamental para a cultura de inovação na empresa.
Isso é, apesar da mentoria reversa ter benefícios imediatos no ganho de conhecimentos, ela também pode ser uma parte da estratégia de longo prazo da organização. Afinal, profissionais mais flexíveis tendem a trazer mais ideias inovadoras para seu trabalho.
Ambiente de trabalho igualitário
Uma das dificuldades para um bom clima organizacional é a falta de pluralidade nas experiências das equipes. Muitas vezes os profissionais mais estabelecidos têm dificuldade em ver valor na visão de iniciantes, já que sua vivência foi baseada em um contexto diferente.
Porém, é importante lembrar que existe espaço para múltiplas formas de lidar com os desafios no trabalho e os espaços de troca ajudam a facilitar esse processo. Ao definir um plano de mentoria reversa, o profissional de RH ajuda a diminuir as barreiras entre gerações e ampliar as relações profissionais.
A partir daí, os mentorados e mentores podem trocar ideias, auxiliar mutuamente no crescimento da carreira e promover o diálogo entre teoria e prática, entre experiência e inovação.
O que a mentoria reversa traz para a equipe?
Além de trazer vantagens para o engajamento das equipes e produtividade dos processos da organização, a mentoria reversa é positiva para os colaboradores, tanto mentores quanto mentorados. Entre os motivos para participar de uma mentoria estão:
Networking e criação de vínculos
A criação de relações profissionais é muito importante na gestão de carreira. Fazer networking ajuda na busca de novas oportunidades no futuro, destaca o colaborador para promoções e abre espaço para participação em mais projetos de impacto.
Nem sempre os colaboradores focam nessa formação de vínculos, por falta de tempo ou priorização. A mentoria reversa é uma aliada nesse processo, já que sistematiza essas conversas.
O networking é benéfico tanto para mentores quanto para mentorados. Por exemplo, um profissional júnior que faz parte da mentoria reversa e auxilia seus mentorados a aprender novas tecnologias pode se destacar em oportunidades de promoção.
Já um mentorado, ao dedicar tempo para entender melhor as mudanças do mercado, aumenta seu repertório e acaba sendo um profissional mais qualificado em transição de carreira e mudanças laterais.
Desenvolvimento de competências pessoais
Muitos profissionais focam nas habilidades técnicas para se destacar no mercado, mas elas não são o único ponto a se atentar. Hoje, as lideranças buscam profissionais completos, com domínio das competências pessoais, que impactam diretamente a performance. Entre essas habilidades estão responsabilidade, proatividade, pensamento crítico e boa comunicação com outros colaboradores, por exemplo, pontos essenciais para um bom profissional.
Durante a mentoria reversa, os mentores desenvolvem habilidades como clareza na comunicação, capacidade de liderança, adaptabilidade e gestão de prioridades. Já os mentores podem aprimorar sua gestão de tempo, flexibilidade, pensamento crítico, proatividade e curiosidade, entre outros.
Aplicação de novos conhecimentos
A proximidade da mentoria reversa ajuda a facilitar a aplicação de novos conhecimentos. Diferente de estratégias de treinamento como cursos e palestras, a mentoria foca nos desafios recorrentes da atuação profissional.
Ou seja, o mentorado pode apresentar um ponto de dificuldade durante as sessões, dialogar com o mentor sobre as estratégias, encontrar uma forma inovadora e aplicá-la, na prática. Durante a próxima conversa, pode trazer os resultados, avaliando rapidamente quais estratégias tiveram maior benefício em sua rotina.
Com isso, as mudanças acontecem de forma mais rápida e embasada na realidade de cada colaborador.
4 etapas para implementar a mentoria reversa
O profissional do RH tem um papel fundamental na criação e aplicação de um programa de mentoria reversa. É ele que deve entender quais pontos devem ser desenvolvidos, mapear o diálogo e acompanhar o sucesso da estratégia, para garantir a utilização correta do programa.
Confira as etapas essenciais dessa implementação:
1. Identifique as lacunas estruturais
A pesquisa é o primeiro passo de qualquer estratégia nova na organização. Cada empresa e equipe tem sua realidade específica e não existem estratégias universais. Por isso, o RH deve identificar quais são as principais barreiras a serem quebradas pela mentoria.
Nesse ponto, destacam-se questões como falta de diálogo entre diferentes setores, dificuldade em utilizar ferramentas mais tecnológicas, processos pouco eficientes, etc.
Para entender quais são as dificuldades que a equipe enfrenta, é importante realizar avaliações de desempenho contínuas, que comparem as demandas da empresa com as habilidades dos colaboradores e as lacunas a serem preenchidas. Nesse processo, deve-se escutar tanto os líderes quanto as equipes, para ter uma análise mais clara.
2. Encontre os participantes ideais
A partir daí, é preciso encontrar as pessoas que vão participar do programa de mentoria reversa. Essas mentorias devem ter caráter voluntário, ou seja, focar nos profissionais verdadeiramente interessados em contribuir.
É papel do RH auxiliar nesse processo mapeando as dificuldades enfrentadas e conectando esses profissionais com mentores que tenham as ferramentas necessárias. Ou seja, para que o programa tenha sucesso, é fundamental que as parcerias sejam bem escolhidas.
3. Defina as prioridades da troca
Cada mentoria pode ocorrer de formas diferentes. Algumas duplas podem preferir conversas informais, outras trocam aprendizados por meio de vivências práticas. Essa flexibilidade é essencial para que a mentoria seja proveitosa em diferentes casos.
Porém, para garantir o sucesso da estratégia, o RH deve apresentar as prioridades e metas a serem atingidas nesse programa. No caso de proficiência em ferramentas, por exemplo, podem focar na capacidade de concluir tarefas rotineiras.
As metas ajudam os mentores a definir sua estratégia de ensino. Enquanto isso, para os mentorados, funcionam como um guia para gerir seu tempo e treinar novas habilidades.
4. Faça o acompanhamento
Por fim, o profissional do RH deve monitorar a mentoria reversa para garantir que ela esteja funcionando corretamente ou fazer alterações como trocar as duplas e definir novas metas e prazos.
Para isso, é essencial realizar sessões de feedback com ambas as partes, focando na experiência durante a mentoria, novas habilidades que mentores e mentorados ganharam e qual foi sua percepção sobre a oportunidade.
Assim, o RH pode medir o sucesso da estratégia e ampliá-la para mais participantes, beneficiando cada vez mais a organização e suas equipes.A mentoria reversa ajuda na troca de conhecimento e experiências. Para outras estratégias, confira nossas dicas de aprendizagem contínua!