A ideia de job rotation, em tradução direta “rotatividade de cargos”, tem ganhado espaço nas discussões sobre gestão de talentos em diferentes organizações. É uma ferramenta de gestão desenvolvida, principalmente, para trazer diferentes perspectivas e ampliar a experiência profissional dos colaboradores, dando oportunidade de atuar em mais de um setor e em diferentes etapas do processo da empresa.
Este artigo explora o conceito de job rotation, com exemplos práticos, vantagens do método, potenciais problemas em sua implementação e como o RH pode garantir que funcione melhor.
O que é job rotation?
O job rotation é um sistema de treinamento e funcionamento que serve tanto como forma de flexibilizar o trabalho como capacitação profissional. Em linhas gerais, permite que um colaborador passe por diferentes setores da mesma empresa, sem que tenha que passar por vários processos seletivos nem lateralização da carreira.
A ideia é que, em determinado cargo, cada setor tem suas especificidades, certo? Por exemplo, um profissional júnior de vendas corporativas não tem o mesmo dia a dia de um profissional júnior de logística. Ainda que tenham a mesma formação acadêmica e remuneração, cada um tem suas responsabilidades e, em uma empresa tradicional, trajetória pré-definida.
Justamente por isso, também há menos espaço para desenvolvimento profissional. O profissional de vendas talvez tenha mais oportunidades para se tornar um bom orador, enquanto o profissional de logística talvez saiba gerir melhor seu tempo e orçamentos.
No job rotation, esses profissionais terão a oportunidade de aprender novas ferramentas, utilizar outra gama de recursos da empresa, ter acesso a outros líderes e formatos de feedback. Durante o processo, desenvolvem tanto habilidades técnicas quanto competências comportamentais necessárias para avançar na carreira.
Como o job rotation funciona na prática?
O job rotation funciona como treinamento e, por isso, deve ter um propósito claro. O primeiro passo é entender as necessidades de cada setor: quais são os processos recorrentes? Que habilidades são necessárias para ter sucesso naquela equipe? O que os colaboradores desenvolvem ao longo do tempo?
É fundamental também identificar as lacunas, ou seja, quais obstáculos ainda não estão sendo transpostos pela equipe atual? Que conhecimentos os profissionais da área precisam desenvolver? Em outros métodos de gestão, a resposta pode ser oferecer cursos e workshops, mas nesse caso, o job rotation é o treinamento.
O RH deve definir, portanto, quais setores estão preparados para receber e ceder profissionais no esquema de rotatividade. Depois disso, quais cargos e responsabilidades devem participar do projeto.
O último passo é definir o prazo esperado. Cada empresa funciona de forma única, mas é interessante alinhar as mudanças de cargos com os projetos em andamento – dessa forma, os colaboradores poderão ter uma vivência mais completa de outro setor.
3 exemplos de job rotation
O job rotation pode ocorrer em diferentes setores e níveis de senioridade. Cada sistema tem seus objetivos, que são desenvolver os profissionais individualmente, dando mais repertório de trabalho, mas também trazer de volta conhecimentos adquiridos para a equipe de início.
Para funcionar, portanto, é preciso que haja integração entre o setor e o colaborador de passagem. Alguns exemplos são:
Rotação de profissionais iniciantes
Muito comum nos programas de estágio e trainee, o job rotation é uma forma de ampliar a experiência profissional em menos tempo. Um trainee ou estagiário deve, durante seu período de aprendizado, testar diferentes possibilidades dentro da empresa e o job rotation é uma ótima ferramenta para isso.
Em vez de um cargo fixo durante esse tipo de contratação, o profissional tem a chance de vivenciar tipos de equipes, responsabilidades e lideranças diferenciadas. Assim, pode identificar em quais espaços se destaca e onde sente seu rendimento profissional melhorar.
Além de ser uma oportunidade de buscar cargo permanente na empresa, realizando networking com um maior número de colegas, o trainee ou estagiário pode descobrir novas trajetórias profissionais possíveis enquanto entra no mercado.
Rotação entre departamentos
Mesmo profissionais mais estabelecidos podem se beneficiar de job rotation. Um analista de tecnologia, ao vivenciar um projeto do setor financeiro, descobre formas novas de aplicar seu conhecimento de software para a gestão orçamentária. Um profissional do setor criativo pode, durante a passagem pelo setor de distribuição, entender melhor como seu trabalho interage com o público-alvo.
Ou seja, existe espaço para troca em diferentes níveis. Além disso, durante esse job rotation, os departamentos têm a oportunidade de aumentar o diálogo entre si, o que não ocorre naturalmente caso a comunicação interna na empresa não seja efetiva.
Essa troca, além de agregar aos conhecimentos do colaborador, fomenta a criação de novas relações profissionais.
Job rotation entre sedes
Uma estratégia maior de job rotation é promover esse rodízio entre profissionais de diferentes sedes. As empresas que atuam em mais de um mercado tendem a ter experiências diferentes, dependendo do local onde estão presentes. Isso impacta a visão de mundo e o trabalho de cada equipe e seus colaboradores.
O intercâmbio de profissionais, no esquema de job rotation, é mais custoso, mas pode trazer ganhos enormes para ambos os setores. Ao atuar em outro local, o profissional tem a possibilidade de vivenciar seu trabalho de outra forma, com um impacto diferente nos processos da empresa.
Além disso, as trocas culturais desse job rotation contribuem para a melhoria do clima organizacional e a diversidade do ambiente de trabalho.
Quais as vantagens de fazer job rotation na empresa?
O job rotation tem benefícios tanto para a empresa quanto para cada colaborador, individualmente. Como esse processo é um treinamento prático, ele permite que pontos fortes e fracos sejam identificados, o que torna as trocas mais produtivas e apresenta diferentes vantagens no dia a dia e a longo prazo, como:
Experiência para a carreira
Muitos profissionais estão em busca de transição de carreira ou crescimento em sua jornada na empresa. Mas com as demandas da rotina profissional, nem sempre é possível incorporar treinamentos que aumentem seu repertório.
Nesse sentido, o job rotation funciona como um período de teste. Ao ser movido para um outro setor, o profissional tem a oportunidade de aprender novas habilidades e dialogar com pessoas de outras experiências. Com o tempo, o repertório cresce e o profissional tem as habilidades necessárias para se candidatar a cargos de liderança.
Paralelamente, o job rotation pode despertar o interesse em outra área de atuação e levar o colaborador a buscar mais capacitação profissional para realizar a mudança de setor permanentemente.
Aumento da produtividade
A desmotivação no trabalho é uma das maiores causas de queda na produtividade. Isso é, o profissional não se sente desafiado pelas tarefas de sua responsabilidade, mas não tem um caminho de crescimento definido ou projetos novos no momento.
A resposta talvez esteja na oportunidade de enfrentar desafios de outros setores. Com o job rotation, o colaborador vivencia formas de trabalho diferentes da própria, tendo que se adaptar à dinâmica da equipe que o recebe. Ou seja, além de ter que aprender mais sobre outras tarefas, tem que repensar sua forma de trabalho. Essa mudança de cenário ajuda a motivar e aumentar a produtividade.
Maior engajamento com a empresa
Outra dificuldade que afeta as empresas é a falta de conhecimento dos profissionais em relação ao processo completo. Isso é, muitas vezes, as pessoas só estão familiarizadas com o que ocorre dentro do setor.
Durante o job rotation, os colaboradores têm a oportunidade de entender melhor a cadeia de produção, o impacto de cada setor, quais as relações entre eles, etc. Com isso, se sentem mais engajados com o processo total, além de mais próximos de profissionais fora de sua rotina.
Quais são as barreiras para implementar o job rotation?
Apesar de o job rotation ser, em geral, benéfico para a empresa e seus colaboradores, é importante se atentar para duas dificuldades que podem prejudicar o processo.
A primeira é a dificuldade de adaptação de alguns colaboradores e equipes. Nem todos os profissionais têm flexibilidade para mudar de setor e nem todas as equipes são receptivas. Isso pode comprometer a produtividade se não for feito com o cuidado necessário.
O segundo ponto de atenção é o fator cíclico das experiências profissionais. O job rotation não tem um período padrão, mas deve-se levar em consideração o tempo necessário para que o profissional possa completar etapas no cargo que está vivenciando. Se não, o aprendizado fica comprometido.
Como o RH deve atuar no job rotation?
É papel do RH fazer análises minuciosas sobre como o job rotation pode agregar em sua equipe, para definir um programa benéfico tanto para a empresa quanto para colaboradores.
Para garantir que o alinhamento se mantenha durante o programa, é importante realizar sessões de feedback com equipes e lideranças, avaliando os ganhos e quais lacunas surgiram durante o processo. Dessa forma, o job rotation garante a produtividade e o desenvolvimento profissional.
O job rotation amplia repertório e abre novas oportunidades de progressão profissional. Confira outros pontos importantes da gestão de carreira!